Eu queria que aquele menino tocasse a sanfona! Ele não era revendedor de canetinhas do Largo Treze nem vendedor de biscoitos esquisitos de marcas mais esquisitas ainda. Tampouco era aqueles peruanos chatos que tocam a música tema de Titanic na zamponha (aquele instrumento de sopro inca de bambu). Quando ele subiu no ônibus pela porta traseira com uma sanfona bonita de madeira vermelha e brilhante, abri um sorriso para mim mesmo. Adoro ver coisas incomuns. Prendem nossa atenção e faz o tempo passar mais rápido. Não que aquele menino baixinho de camiseta colorida surrada com a sanfona na mão seja uma novidade. Já vi um trio de velhinhos com zabumba, triângulo e sanfona tocando em alto e bom som no fundo do ônibus num sábado de madrugada. Acredito que naquela noite nunca a avenida Santo Amaro foi tão feliz. Hoje ela estava mais apressada, talvez por ser quase duas horas da tarde. Eu estava voltando do almoço em casa para a agência. As pessoas nesse horário são fechadas e estranhas.